Você acha que isso é apenas brincar? Não mesmo. Enquanto brinca, seu filho também desenvolve aptidões essenciais para ser um profissional de sucesso
Ainda refletindo sobre a palestra de ontem, a revista Crescer de setembro/2007, me fez ter mais certeza ainda das minhas convicções sobre a importância do lúdico na aprendizagem do Dudu. Compartilho então com vocês a reportagem. 
Você quer que seu filho seja bem-sucedido, independentemente da atividade que escolher, certo? E, pensando nisso, acha que ele deve dedicar boa parte da infância aos estudos, ao invés de gastar o tempo livre brincando? Normal. Segundo pesquisa da educadora Marilena Flores, presidente da Associação Internacional pelo Direito do Brincar (IPA, na sigla em inglês) no Brasil, 84% dos pais orientam os filhos para estudar mais que brincar. O que é compreensível no mundo competitivo em que vivemos.Outro estudo recente, feito pela Unilever com 1.500 mães em dez países, mostra que 94% delas acham que a brincadeira é importante para a saúde, mas apenas 40% citam o desenvolvimento das habilidades sociais como o maior benefício. Para Jerome e Dorothy Singer, professores de psicologia da Universidade Yale (EUA) e coordenadores da pesquisa, hoje as crianças têm menos tempo para brincar porque os pais exigem que elas se concentrem mais na escola. “Eles esquecem que, enquanto brincam, as crianças aprendem a cooperar e a criar relações sociais que vão ajudá-las a se tornar adultos mais maduros e capazes de solucionar problemas”, afirmam.Duvida? Para tirar a prova, perguntamos ao consultor de carreira Max Gehringer, colunista da revista Época, do Fantástico e autor do recém lançado Pergunte ao Max (Ed. Globo), o que o profi ssional do futuro tem de saber para se dar bem. Os itens foram avaliados por especialistas em desenvolvimento infantil, que chegaram a uma resposta defi nitiva: brincar é a melhor maneira de desenvolver todas essas habilidades.empreender Para Gehringer, a capacidade de enxergar todos os ângulos de uma questão e criatividade na hora de avaliar um problema são características valorizadas no mercado. O faz-de-conta, onde a brincadeira transcende o limite da realidade, é nada mais do que um exercício de imaginação, um treino para a vida real. Você já prestou atenção num grupo de crianças brincando de casinha? Outro item importante para os empreendedores do futuro é saber correr riscos. Como andar de bicicleta. No início, a criança pode cair várias vezes, até perceber que consegue pedalar sem rodinhas. Mas, antes, teve de vencer o medo. adaptar - A habilidade de se adaptar a diferentes situações, fundamental no mundo corporativo, segundo Gehringer, também pode ser praticada na hora do recreio. Um jogo de tabuleiro, por exemplo, além de ensinar a criança a lidar com perdas e ganhos, mostra que, vez ou outra, tudo bem em mudar as regras. Mas quem briga com todo mundo quando perde - assim como no escritório - pode ficar de fora da próxima brincadeira. Já os blocos de montar mostram que, quando tudo cai, podemos tentar de novo! estudar - Os profissionais do século 21 devem atualizar o currículo sempre, com cursos e especializações. Ou seja, têm de gostar muito de estudar. Qual a relação com o brincar? Em primeiro lugar, a curiosidade é a condição básica para se interessar pelo conhecimento. As crianças são curiosas por natureza, mas essa vontade de aprender pode ser perdida com o tempo. O faz-de-conta é uma maneira de preservá-la. Pois a criança que exercita a fantasia, sendo em um dia a princesa e no outro o dragão, consegue se transportar mentalmente para outros lugares com facilidade. O que vai fazer toda a diferença na escola, das aulas de matemática às de literatura. Os livros, aliás, também são brinquedos importantes - isso mesmo! - para treinar a imaginação. socializar - O seu filho só brinca com outras crianças na escola ou nas aulas extra-curriculares? Então, pode estar perdendo a chance de fazer amigos preciosos. Mais de 60% das mães entrevistadas pela Unilever relacionam a falta de tempo para brincar à dificuldade em formar relacionamentos. Elas estão certas. O que faz a brincadeira ser mais rica é a parceria. Pois, ao interagir com crianças fora da escola, além de conhecer outras brincadeiras, seu filho vai perceber que as pessoas têm opiniões distintas. Com isso, terá de defender seus argumentos, mas também respeitar a opinião do outro. O que vai torná-lo uma pessoa mais agradável de conviver e, possivelmente, cheia de amigos. "Se ter um bom currículo é vital, conhecer a pessoa certa é mais ainda", diz Gehringer. Mais um exemplo? Na hora de escolher a equipe de futebol, mesmo quem não joga bem é escolhido, se for amigo do capitão do time! mudar - As empresas buscam funcionários que não enxerguem barreiras geográficas - e que não tenham medo de mudanças. Mas para ganhar autonomia, é preciso acreditar em si mesmo. Você lembra da primeira vez em que montou um quebra-cabeça? À primeira vista, parecia complicado. Mas foi ficando mais fácil a cada tentativa. Além de testar seus limites, a repetição fez com que você ganhasse confiança e partisse para novos desafios - como um modelo com mais peças. Os jogos coletivos, seja o dominó, seja o cabo-de-guerra, também estimulam a cooperação, característica essencial para quem possivelmente vai conviver com pessoas de culturas diferentes, em sua própria cidade ou em outros países. abrir - Você já reparou que um bebê pode brincar, com o mesmo comprometimento, tanto com um chocalho quanto com um celular de brinquedo que emite sons e luzes? Assim como uma criança maior usa as habilidades que treinou na máquina de dançar para pular corda, brincadeira antiga que está na moda de novo. Preconceito é coisa de adulto. Segundo Max Gehringer, melhor que elas continuem assim: abertas a novidades, mas sem menosprezar o que já aprenderam. "Não é necessário mudar tudo", afirma. Pois, no âmbito profissional, "a sabedoria está no equilíbrio entre o progresso e o conservadorismo." liderar - Ser líder, diz Gehringer, significa incentivar positivamente os colegas e saber exercer autoridade sobre a equipe. A brincadeira estimula a liderança porque todos podem ser líderes. Seja no esconde-esconde ou no corre-cotia, há a chance de esconder ou buscar, de fugir ou correr atrás. Já nas brincadeiras em que existe só um líder, o posto fica com quem se destacar. Daí a importância de oferecer à criança brinquedos, jogos e possibilidades variadas de brincar, para ela descobrir do que mais gosta. "Além disso, o líder tem de cuidar de todos: nenhum grupo é homogêneo", afirma o consultor. Aqui, novamente, entram os jogos de equipe. Como você percebeu, não há uma única brincadeira para treinar a liderança, a socialização ou a autonomia. Todas são válidas para alcançar essas e outras habilidades. Pois, como concluem os pesquisadores Jerome e Dorothy Singer, "brincar desenvolve todos os sentidos." Brincar para crescer O consultor de carreiras Max Gehringer, 58, é do tempo em que as crianças brincavam muito, principalmente fora de casa. "Passava as tardes jogando futebol, brincando de pega-pega e subindo em árvores com os colegas da vizinhança", diz. Como naquela época não havia problemas de segurança, brincar livremente pelo bairro não era algo que preocupasse a família.Ele recorda que as portas das casas estavam sempre abertas e "podia-se chegar a qualquer momento para um café com bolo".Dono de um currículo de respeito, com passagens pela Fundação Getulio Vargas, por Harvard e Cambridge, só para citar algumas, Gehringer não menospreza a contribuição que as brincadeiras de rua trouxeram à sua vida. "Elas me ajudaram a desenvolver a imaginação, o físico e o social." Mas acha que, se fosse criança hoje, com certeza brincaria de videogame também! Por Malu Echeverria e Thais Lazzeri.
 Às 22:15

0 Aqui também pode!
0 Comentários:
Post a Comment
|